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Atualizado em 22/03/2022

Resenha Crítica: Educação após Auschwitz (Theodor Wiesengrund Adorno)

Descubra como o livro "Educação após Auschwitz" do filósofo alemão Theodor Wiesengrund Adorno nos ajuda a refletir sobre a tragédia da Shoah. Aumente seus conhecimentos sobre o Holocausto lendo esta resenha crítica!

Campo de concentração (Auschwitz)

Theodor Wiesengrund Adorno (1901-1969), filósofo, sociólogo e musicólogo. Nasceu na Alemanha na cidade de Frankfurt, onde se destacou como membro da famosa Escola de Frankfurt. Devido à perseguição aos judeus viveu exilado por alguns anos.

Theodor Wiesengrund Adorno  Visite: https://pedagogiaaopedaletra.com/resenha-critica-educacao-apos-auschwitz-t-w-adorno/

Theodor Wiesengrund Adorno

Suas idéias tomam a própria sociedade como objeto e consideram a produção cultural em sintonia com a ordem social em vigor.

Criou o conceito de “indústria cultural” para designar a exploração sistemática e programada dos bens culturais com finalidade de lucro e de enganação.

Seus escritos contêm fundamentos da dialética de Hegel e uma profunda conotação sociológica.

A resenha, ora apresentada, vincula a educação como instrumento de formação de pessoas que podem cometer atrocidades a serviço de um sistema xenofóbico.

Auschwitz foi um conjunto de quatro campos de concentração (1941-1944), construídos pelos nazistas para extermínio de judeus, na cidade polonesa de Oswiecim.

Nas quatro câmaras de gás e fornos de incineração, chegaram a ocorrer 200 incinerações por dia.

Em Auschwitz, eram realizadas experiências genéticas macabras utilizando os prisioneiros judeus como cobaias. Calcula-se que três a quatro milhões de prisioneiros foram assassinados nessas instalações, onde hoje funciona um “museu” do Holocausto!

Theodor W. Adorno não quer que isso caia no esquecimento e muito menos que fato volte a acontecer.

A Segunda Guerra Mundial deixou marcas e danos irreparáveis na condição humana e não apenas naqueles que sofreram os horrores e as barbáries como vítimas diretas ou indiretas.

O fato mais assustador é que a própria sociedade propiciou homens capazes de cometer tais atrocidades e permitiu que uma verdadeira “indústria de extermínio” de pessoas se instalasse e funcionando plenamente.

Auschwitz foi um episódio tão abominável e inconcebível que jamais poderá ser apagado ou esquecido nas páginas negras dos livros da história.

É doloroso ter consciência de que tudo o que lá foi erguido e praticado contou com a intenção e a inteligência humana. Era o ser humano versus o ser humano, justificado por uma cruel intolerância à diversidade racial e cultural.

Como entender uma atitude planejada, racionalmente, se a razão não condiz com tal circunstância?

Nem mesmo na mais primitiva espécie animal, dita “irracional”, algo semelhante foi registrado.

Daí, a preocupação do pensador Theodor W. Adorno se justifica e até hoje nos atormenta: Como que evitar Auschwitz venha a se repetir?

Alguns educadores sem negam a retroceder ao dantesco episódio, pois a simples referência a ele já nos causa indignação e vergonha. Então, que se faça a sua subestimação ou negação?

Porém, Adorno diz que não sepultá-lo e questioná-lo é uma maneira de evitar sua repetição.

O mundo contemporâneo, agora “globalizado”, onde predomina a ideologia capitalista está correndo sérios riscos. Vale que retomemos essa discussão!

Atualmente, o indivíduo está sujeito ao imediatismo, ao consumismo e ao individualismo desenfreado, como preparar a pessoa para esses descaminhos? O que a educação pode fazer pela pessoa? O que se deve cultivar como valores? Que sementes devem ser plantadas para que a pessoa seja mais humana e não desumana?

Tudo isso preocupava Adorno. A possibilidade de que nova carnificina como a de Auschwitz encontrasse terreno fértil para se reinstalar era o temor do filósofo. Onde teria ocorrido tamanha falha na formação daqueles homens que se prestaram a tanta crueldade? Na sociedade? Na família? Na escola? Nesse conjunto social?

A contemporaneidade trouxe novos paradigmas educacionais. A escola se atrelou a um tecnicismo para atender a um sistema de formação para o trabalho e para a preparação para um sistema produtivo carente de mão-de-obra eficiente.

Seres, novamente, “coisificados”, desprovidos de sua humanidade vêm se reproduzindo e repassando esse mesmo tratamento ao seu semelhante. Isso também é violência, pois a violência não está apenas na agressão física (essa é uma das suas manifestações), mas também na forma indiferente de perceber o outro e a si próprio.

E o ambiente físico escolar? As escolas se assemelham a prisões. Prédios mal planejados, danificados, grades por toda parte, frieza de concreto, salas abafadas e lotadas de “coisas” (ou seriam “pessoas”?). Será que esse ambiente propicia o despertar da sensibilidade e da criatividade para uma aprendizagem transformadora?

Repensar a escola é urgente. Adorno nunca foi tão atual. Retomar esse questionamento é fundamental para evitar “minis-Auschwitzes” nacionais.
Adorno sugere os esportes, jogos lúdicos, sem o propósito competitivo, mas do convívio solidário e de equipe, onde as forças são somadas para o cumprimento de uma meta comum.

Outra vertente que desperta a sensibilidade e inibe a brutalidade é o ambiente das artes em geral (a música, a pintura, a poesia, o teatro, o artesanato…), essas formas de expressões culturais quando despertadas elevam e sintonizam ao humano à sua essência interior.

Repensar a escola é humanizá-la. Voltá-la para o caminho da cooperação, do diálogo, do entendimento, do apoio a posturas sensatas e conciliatórias. Através das relações interpessoais, que mexem com a emoção e geram laços afetivos se consegue uma ação transformadora e humanizante.

Se for necessário, que se ensine a “ser” e a se “conhecer” , ao invés de ensinar pacotes de conteúdos e conhecimentos, hermeticamente contidos em “programas” pré- fabricados.

Uma sociedade educacional é aquela que cria vínculos, que valoriza as diferenças e resgata as identidades perdidas. A escola humanizada é solidária, é espaço de socialização, de convivência harmônica e de preservação da vida plena para que Auschwitz nunca mais se repita.

Vale lembrar que, já na Antiguidade Clássica, os sábios Sócrates e Platão concordavam que o objetivo máximo da Educação era despertar o corpo e a alma para a beleza, a virtude, o amor, a verdade, o bem…

O texto de Adorno é um alerta para a sociedade e para os educadores, É preciso refletir sobre o tipo de ser humano que nosso sistema social está gerando e formando.

Somente a reflexão crítica e filosófica pode impedir que as pessoas cheguem a ponto de repetir atrocidades, que sejam devotas e se submetam a ideologias de intolerância de qualquer ordem.

Repensar a realidade educacional, questionar as políticas educacionais embutidas de ideologias impostas como corretas e intocáveis é tarefa do educador consciente.

Quando a realidade educacional e cultural se torna endurecida e inflexível fica em total descompasso com a sensibilidade de ser “humano”.

Questionando os papéis e as condições da família, da escola, da mídia, do sistema, da política governamental poderemos chegar às respostas para os fracassos educacionais.

De tudo isso, o mais importante é a tomada de consciência de que cada acontecimento de barbárie não se resume apenas ao ato de sua consumação, mas envolve outras questões que criaram a possibilidade para que ele viesse a acontecer!

Autor: Salete Micchelini

Dica de Leitura: Livro As Costureiras de Auschwitz

2 respostas para “Resenha Crítica: Educação após Auschwitz (Theodor Wiesengrund Adorno)”

  1. A educação moderna deve considerar todos esses fatores que foram narrados no texto de Theodor a fim de que ela própria se reinvente passo a pasdo numa busca constante em compreender o seu verdadeiro papel que é o de formar o cidadão para a vida.

Não se preocupe, seu email ficará sem sigilo.