Como estimular a memória de trabalho em crianças com dificuldades de aprendizagem
Descubra estratégias baseadas em neurociência para estimular a memória de trabalho em crianças com TDAH e dislexia usando jogos pedagógicos e materiais sensoriais.

Para psicopedagogos e educadores que buscam promover o desenvolvimento cognitivo de crianças com TDAH, dislexia ou outras dificuldades de aprendizagem, entender como funciona a memória de trabalho e como estimulá-la é essencial. A memória de trabalho, responsável por manter e manipular informações por curtos períodos, é um fator-chave em tarefas como leitura, resolução de problemas e organização de ideias. Integrar jogos específicos e materiais sensoriais pode tornar esse processo lúdico e efetivo. Experimente, por exemplo, jogos de memória infantil que desafiem a criança a reter sequências de figuras, palavras ou sons, estimulando simultaneamente o sistema auditivo e visual.
Ao longo deste artigo, você encontrará fundamentos da neurociência aplicados à prática psicopedagógica, atividades estruturadas e recomendações de materiais e ferramentas que podem ser incorporados em atendimentos ou na sala de aula inclusiva. Aproveite também a indicação de um kit de materiais sensoriais para complementar suas intervenções de forma prática e envolvente.
O que é memória de trabalho?
A memória de trabalho é um sistema cognitivo responsável tanto por armazenar informações temporariamente quanto por manipulá-las de forma ativa. Concebida inicialmente por Baddeley e Hitch, ela é dividida em componentes como o laço fonológico (phonological loop), que lida com informações verbais, e o bloco visuoespacial (visuospatial sketchpad), que processa imagens e padrões espaciais. Há ainda o executivo central, que coordena esses subsistemas e integra informações vindas do buffer episódico.
Em contextos de aprendizagem, a memória de trabalho é fundamental para tarefas como decodificação de palavras, manutenção de instruções em mente enquanto realizam cálculos ou seguem passos em projetos. Quando essa capacidade está fragilizada, a criança pode apresentar dificuldade para lembrar sequências de palavras, falhar na compreensão de enunciados longos e demonstrar dispersão diante de estímulos complexos.
Do ponto de vista neurobiológico, estruturas como o córtex pré-frontal dorsolateral e o córtex parietal posterior desempenham papéis centrais na memória de trabalho. O equilíbrio neuroquímico envolvendo dopamina e noradrenalina é crítico para a manutenção de atenção e para a atualização de informações em tempo real. Por isso, estratégias que estimulam esses circuitos — como exercícios que envolvem desafios de memória e recompensas imediatas — podem reforçar conexões sinápticas e promover ganhos de aprendizado.
Desafios de memória de trabalho em crianças com TDAH e dislexia
Crianças com TDAH frequentemente apresentam capacidade reduzida de manter informações na memória de trabalho, o que impacta diretamente o controle inibitório e a atenção sustentada. Isso se manifesta em dificuldades para seguir instruções longas, desatenção em tarefas que exigem concentração prolongada e esquecimento de etapas importantes em atividades escolares.
Já na dislexia, a memória de trabalho verbal costuma ser a mais afetada. A criança pode ter dificuldade para manter em mente a sequência de sons ou letras de uma palavra, o que dificulta a decodificação durante a leitura. A sobrecarga cognitiva leva a erros frequentes, leitura lenta e baixa compreensão de textos.
Essas fragilidades se refletem também no desempenho em matemática e na organização de ideias na escrita. É comum observar lapsos de memória durante cálculos mentais e estruturas de texto desconexas. Por isso, avaliar e intervir na memória de trabalho torna-se um passo fundamental para superar barreiras de aprendizagem e promover autonomia.
Estratégias baseadas em neurociência
Jogos pedagógicos para aprimorar a memória de trabalho
Os jogos que desafiam a retenção e o processamento simultâneo de informações são ferramentas valiosas. Atividades como memória sequencial, jogos de tabuleiro com cartas numeradas e aplicativos n-back (onde a criança compara estímulos atuais com os apresentados n rodadas antes) estimulam o executivo central e o laço fonológico.
Ao selecionar esses recursos, é importante considerar a progressão de dificuldade e a motivação do aluno. Consulte o artigo jogos pedagógicos para funções executivas para orientações sobre critérios de escolha, níveis de desafio e formato de feedback. A combinação de digital e analógico garante variedade de estímulos e evita a saturação.
Incluir atividades musicais, como a reprodução de sequências de notas em instrumentos simples (teclado infantil, pandeiro) ou apps de ritmo, fortalece a memória auditiva e cria reforços multimodais. Esses exercícios são especialmente benéficos para disléxicos, pois associam sons a padrões visuais e táteis, ampliando o repertório de estratégias de processamento.
Atividades sensoriais integradas
Materiais que envolvem tato, propriocepção e estimulação vestibular podem ser utilizados para ancorar informações na memória de trabalho. Por exemplo, pedir para a criança ordenar blocos de cores enquanto percorre um circuito sensorial em labirinto de texturas exige coordenação entre sistemas sensoriais e cognitivos.
Para orientação sobre montagem e uso desses recursos, consulte o guia de materiais sensoriais para atenção sustentada. A proposta é enriquecer o cenário de aprendizagem com caixas sensoriais, pratos de furar e bolas com texturas, tornando o processo mais envolvente e ancorando a informação em diferentes canais sensoriais.
Combinar atividades de memória com movimentos, como jogos de imitação de gestos sequenciais, fortalece a integração motora-cognitiva. Estudos mostram que a aprendizagem motora melhora a retenção de sequências e reduz a carga sobre o laço fonológico, ajudando especialmente crianças com déficits na memória verbal.
Técnicas de autorregulação e atenção
Exercícios de mindfulness adaptados para a infância, como o uso de contagem de respirações acompanhada de imagens mentais, podem melhorar a capacidade de atualização da memória de trabalho. Ao treinar a atenção focada, o aluno aprende a redirecionar o fluxo cognitivo e manter informações relevantes em mente.
Incluir pausas estruturadas e sinais visuais (como cartões de cores) durante atividades de retenção sequencial ajuda a criança a monitorar seu próprio nível de engajamento. Essas estratégias de autorregulação são complementares às intervenções lúdicas e aumentam a eficácia do treinamento cognitivo.
Como planejar intervenções com foco na memória de trabalho
Um planejamento eficaz começa com uma avaliação prévia das capacidades de memória de trabalho do aluno, usando escalas e testes adaptados. Após mapear pontos fortes e fracos, defina objetivos claros: aumentar o span numérico, melhorar a retenção de instruções verbais ou fortalecer o laço visuoespacial.
Estruture sessões semanais com metas de dificuldade progressiva e registro de desempenho. Utilize um diário de atividades para anotar resultados, erros frequentes e níveis de motivação. Ao final de cada ciclo, revise o plano e ajuste exercícios para manter desafio e engajamento.
Na organização dos materiais, uma caixa de materiais sensoriais bem montada facilita a gestão do ambiente. Separe jogos de memória, blocos lógicos, instrumentos musicais simples e fichas numeradas em compartimentos distintos. Assim, você ganha agilidade durante as sessões e mantém o aluno motivado pela alternância de estímulos.
Recursos e ferramentas recomendadas
Livros e leituras complementares
Para aprofundar o embasamento teórico, recomendamos obras como “Working Memory and Learning” de Gathercole e Alloway e “Neurociência na Educação” de Root-Bernstein. Esses títulos trazem explicações detalhadas sobre circuitos cognitivos e métodos de avaliação.
Inclua também manuais práticos que reúnem atividades passo a passo e protocolos de intervenção. Ter um portfólio de recursos impressos e digitais vai enriquecer sua prática e oferecer mais segurança no momento de propor novos desafios.
Brinquedos e materiais sensoriais
Invista em kits com blocos de encaixe sequenciais, quebra-cabeças com níveis de dificuldade graduais e jogos de associação de padrões. Os brinquedos educativos que combinam cor, forma e som são excelentes para estimular laço visuoespacial e fonológico simultaneamente.
Para adquirir peças de qualidade, busque catálogos especializados ou fornecedores de materiais sensoriais. Esses recursos, aliados aos jogos pedagógicos, garantem um repertório amplo para diversas necessidades e perfis de aprendizagem.
Conclusão
Estimular a memória de trabalho em crianças com dificuldades de aprendizagem requer uma combinação de conhecimento neurocientífico, planejamento estruturado e uso de ferramentas lúdicas. Integrar jogos de memória, atividades sensoriais e técnicas de autorregulação potencializa o desempenho cognitivo e promove maior autonomia na sala de aula ou em atendimentos individuais.
Ao aplicar essas estratégias, você estará fortalecendo circuitos cerebrais fundamentais para a aprendizagem e contribuindo para o desenvolvimento integral do aluno. Invista em recursos diversificados, avalie constantemente a evolução e ajuste suas práticas para alcançar os melhores resultados.