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Estimular Flexibilidade Cognitiva em Crianças com TDAH: Jogos e Atividades

Descubra como estimular a flexibilidade cognitiva em crianças com TDAH por meio de jogos e atividades lúdicas, com dicas práticas para psicopedagogos.

Estimular Flexibilidade Cognitiva em Crianças com TDAH: Jogos e Atividades

A flexibilidade cognitiva é uma das funções executivas mais desafiadoras para crianças com TDAH, pois envolve a capacidade de mudar de plano de ação, adaptar-se a novas regras e alternar entre diferentes pensamentos de forma fluida. Para psicopedagogos e educadores, compreender e trabalhar essa habilidade é fundamental para promover avanços significativos no desempenho acadêmico e nas interações sociais.

Ao selecionar recursos para estimular essa função, é importante contar com jogos que ofereçam variações constantes de regras e que desafiem a criança a pensar de maneira divergente. Uma boa opção de arranque é o jogo Uno adaptado para TDAH, que permite alterações simples nas regras a cada rodada, incentivando a criança a se ajustar a novos cenários de maneira divertida.

Além dos jogos de cartas, vale investir em atividades que incluam movimento e estimulação sensorial. Ao longo deste artigo, apresentaremos critérios para escolher materiais, uma lista de 10 jogos e atividades práticas, orientações para integrar essas dinâmicas no atendimento psicopedagógico e indicações de recursos complementares que podem ser adquiridos para potencializar a aprendizagem.

O que é flexibilidade cognitiva e por que é essencial?

A flexibilidade cognitiva refere-se à habilidade de ajustar pensamentos e comportamentos diante de mudanças no ambiente ou na tarefa proposta. Essa função executiva envolve três elementos principais: a capacidade de alternar entre regras, adotar diferentes perspectivas e desenvolver respostas criativas quando diante de desafios imprevistos. Para crianças, essas habilidades são determinantes na resolução de problemas, na adaptação a contextos escolares variados e na gestão de conflitos interpessoais.

Do ponto de vista neurocientífico, a flexibilidade está associada ao funcionamento do córtex pré-frontal e à integração entre sistemas neuronais responsáveis pelo controle inibitório, pela memória de trabalho e pelo planejamento. Em crianças com TDAH, observam-se atrasos no amadurecimento dessas redes, o que pode se manifestar como rigidez de pensamento, dificuldade em transitar de uma tarefa para outra e resistência a novas instruções.

No ambiente escolar, a falta de flexibilidade cognitiva pode gerar frustrações repetidas, uma vez que a criança tende a insistir em estratégias que não funcionam, recusando-se a experimentar soluções alternativas. Por isso, trabalhar essa capacidade não só contribui para o desempenho acadêmico, mas também para o desenvolvimento socioemocional, facilitando a adaptação a rotinas, a aceitação de feedbacks e o relacionamento cooperativo com colegas e professores.

Estudos recentes em neuroeducação demonstram que intervenções lúdicas e baseadas em jogos promovem maior neuroplasticidade nas áreas executivas do cérebro. Ao incentivar a criança a lidar com variáveis inesperadas durante o jogo, o educador fortalece as conexões neurais responsáveis pela flexibilidade, o que reverbera em ganhos em outras funções, como o controle inibitório e a memória de trabalho.

Desafios da flexibilidade cognitiva em crianças com TDAH

Crianças diagnosticadas com TDAH frequentemente enfrentam dificuldades para se adaptar a mudanças de rotina, o que pode ser observado em transições de atividades, no cumprimento de horários e na recepção de orientações diferentes das que estavam acostumadas. Essas barreiras refletem a fragilidade na habilidade de alternância mental, que faz parte do conceito de flexibilidade cognitiva.

Na prática, é comum que essas crianças apresentem comportamentos como insistência em métodos conhecidos, resistência a experimentar novos materiais e frustração rápida quando algo foge do previsto. Em sala de aula, isso pode resultar em quedas no rendimento, baixo engajamento e episódios de ansiedade ou birra diante de imprevistos. É papel do psicopedagogo identificar esses padrões e aplicar atividades que ofereçam desafios graduais, de modo a reforçar a capacidade de adaptação.

Outro aspecto a considerar é que a rigidez cognitiva pode prejudicar a resolução de problemas em grupo. Quando a criança não consegue ajustar seu pensamento às ideias dos colegas, ela tende a se isolar ou a impor seu ponto de vista, comprometendo a cooperação. Para reverter esse quadro, os jogos colaborativos que demandam mudança de estratégia durante a partida são excelentes aliados, pois exigem que cada participante revise constantemente suas ações em função das jogadas dos demais.

Adicionalmente, a dificuldade de alternância pode afetar a escrita e a leitura, já que a criança pode travar em um padrão de grafia ou interpretação, sem se dar conta de que existe outra forma de abordagem. Quando o psicopedagogo utiliza jogos que envolvem múltiplos desafios verbais e visuais, ele cria oportunidades para que a criança exercite a flexibilidade de forma lúdica, reduzindo a ansiedade e aumentando o engajamento no processo de aprendizagem.

Por fim, vale destacar que a paciência e a calibragem do grau de dificuldade são fundamentais. Se o jogo exigir mudanças de regras muito rápidas ou complexas, a criança pode se sentir frustrada e desistir. É importante ajustar a complexidade ao nível de desenvolvimento de cada aluno, progredindo gradualmente para promover confiança e competência na flexibilidade cognitiva.

Critérios para escolher jogos e atividades

Ao selecionar jogos e atividades para estimular a flexibilidade cognitiva em crianças com TDAH, é essencial considerar parâmetros que maximizem o engajamento e a eficácia do treino. A seguir, apresentamos critérios práticos para orientar psicopedagogos e educadores:

1. Variação de regras: Jogos que permitem alterar instruções ao longo da partida exigem que a criança adapte suas estratégias de forma constante. Essa dinâmica replicável fortalece a alternância mental e reduz a rigidez de pensamento.

2. Grau de complexidade ajustável: Atividades devem ter níveis de dificuldade que possam ser calibrados de acordo com o progresso do aluno. Começar com desafios simples e aumentar a complexidade estimula a criança sem gerar frustração excessiva.

3. Elementos de surpresa: Inserir cartas de ação surpresa, obstáculos imprevistos ou variações de tempo mantém a atenção e obriga a criança a revisar planos de ação com agilidade. Estratégias de estimulação vestibular podem ser combinadas para reforçar o impacto cognitivo.

4. Envolvimento sensorial: Jogos que exploram diferentes texturas, sons e cores ampliam a experiência neuro sensoriel e contribuem para a retenção do aprendizado. Esses aspectos são especialmente relevantes em atendimentos inclusivos.

5. Colaboração e competição moderada: Atividades em grupo incentivam a criança a alternar entre estratégias individuais e coletivas, fortalecendo a comunicação e a flexibilidade social. O equilíbrio entre competição saudável e trabalho em equipe deve ser priorizado.

6. Feedback imediato: Ferramentas que fornecem retorno instantâneo ajudam a criança a entender as consequências de cada ação, promovendo ciclos de tentativa e ajuste de comportamento, fundamentais para desenvolver flexibilidade cognitiva.

Seguindo esses critérios, o psicopedagogo conseguirá montar um repertório de jogos e atividades que atendam às necessidades específicas de cada criança com TDAH, otimizando o processo de aprimoramento das funções executivas.

10 Jogos e Atividades para estimular a flexibilidade cognitiva

1. Jogo de Cartas “Mudar e Mudar” – Proposta autoral que permite troca de regras a cada rodada. A cada carta, a criança deve adaptar a ação: pular uma jogada, trocar de lugar ou reorganizar as cartas na mão. Essa constante variação reforça a alternância mental.

2. Dobble Adaptado – Utilize cartas com símbolos variados e defina novas combinações de pontuação a cada partida. Peça para a criança buscar pares conforme o critério do momento (cores, formas ou números), mudando o objetivo de rodada para rodada.

3. Labirinto Modular – Construa um labirinto com peças removíveis e combine desafios de percurso diferentes a cada vez. A criança precisa revisar sua rota inicial conforme as modificações no ambiente, exercitando a flexibilidade espacial.

4. Quebra-Cabeça Dinâmico – Monte quebra-cabeças que podem ter peças de múltiplos conjuntos. Ao trocar peças entre imagens, a criança deve reorganizar o layout e reinterpretar a figura final, promovendo flexibilidade perceptual.

5. Jenga de Ações – Além de remover blocos, cada cor de peça traz um desafio (trocar de mão, rodar uma vez ou realizar um gesto). As regras mutáveis fazem com que a criança revise sua estratégia de equilíbrio a cada jogada.

6. Charadas em Duplas – Em vez de temas fixos, embaralhe categorias (filmes, objetos, ações) durante o jogo. A mudança de tema obriga a criança a acessar repertórios diferentes com agilidade mental.

7. “Conta e Confunda” Numérico – Um jogo de tabuleiro onde as regras de contagem mudam a cada volta (somar, subtrair, pular casas). Essa variação trabalha a alternância entre operações e melhora o controle de inibição.

8. Histórias Colaborativas – Crie um roteiro de narrativa em que cada participante altera um elemento da história quando for sua vez. A criança precisa incorporar as mudanças e ajustar seu relato, fortalecendo a flexibilidade verbal.

9. Jogo Sensorial de Texturas – Disponibilize objetos com diferentes superfícies e defina tarefas variáveis, como encontrar pares de texturas iguais, descrever sensações ou representar com gestos. As instruções mutáveis estimulam a adaptação rápida.

10. Dança das Cadeiras Criativa – Ao invés da música parar, implemente regras extras a cada rodada (trocar de direção, andar de costas ou imitar um animal). Essa constante modificação torna a brincadeira mais desafiadora para a flexibilidade motora e cognitiva.

Cada um desses jogos pode ser adaptado conforme o nível de desenvolvimento da criança, garantindo que o desafio seja adequado e, ao mesmo tempo, estimulante. A variedade de propostas também ajuda a manter o interesse e a motivação ao longo das sessões de psicopedagogia.

Como integrar essas atividades no atendimento psicopedagógico

Para obter melhores resultados, é fundamental planejar as sessões de forma estruturada, mas flexível. Inicie com uma breve avaliação da flexibilidade cognitiva da criança, observando comportamentos de rigidez e resistência a mudanças. Com base nessa análise, defina metas de curto, médio e longo prazo para o desenvolvimento executivo.

Durante cada encontro, apresente o jogo ou a atividade escolhida explicando as regras iniciais e preparando a criança para possíveis mudanças. Oriente-a sobre a importância de adaptar-se às novas instruções e destaque os progressos obtidos a cada ajuste bem-sucedido. Esse feedback verbal positivo reforça o esforço e a autoconfiança.

Ao planejar o ambiente, valorize espaços de silêncio e concentração, mas seja flexível na organização dos materiais. A montagem de uma sala de calma sensorial pode ser um recurso complementar para momentos de sobrecarga, permitindo que a criança retome o controle antes de retomar as atividades de flexibilidade cognitiva.

Registre as observações em um portfólio digital ou em fichas de acompanhamento, focando em indicadores como rapidez de adaptação, grau de frustração e autonomia na revisão de estratégias. Essas métricas auxiliam no ajuste das próximas sessões e na comunicação com familiares e professores sobre os avanços.

Por fim, incentive a generalização das habilidades para o cotidiano da criança. Sugira que os pais incluam variações de regras em brincadeiras caseiras ou em tarefas diárias, como trocar de chefe na arrumação do quarto ou alterar a sequência de etapas em uma receita simples. Quanto mais práticas contextuais a criança tiver, mais sólidos serão os ganhos na flexibilidade cognitiva.

Materiais recomendados para potencializar a prática

Para ampliar os resultados das dinâmicas em consultório ou em sala de aula, considere investir em recursos complementares que apoiem o treino de funções executivas:

  • Livros Técnicos: O livro sobre funções executivas em crianças oferece fundamentos teóricos e sugestões de atividades práticas, servindo de guia para intervenções estruturadas.
  • Materiais Sensoriais: Tapetes de texturas variadas, bolas de diferentes densidades e rolos de espuma ajudam a integrar estímulos táteis e proprioceptivos. Confira nossa lista de materiais sensoriais para atenção sustentada e incorpore-os às suas sessões.
  • Jogos Cooperativos: Tabuleiros colaborativos que exigem troca de estratégias entre participantes reforçam a flexibilidade social e cognitiva ao mesmo tempo, promovendo interação positiva.
  • Aplicativos de Treino Cognitivo: Ferramentas digitais com módulos de alternância de tarefas podem complementar o atendimento presencial e oferecer relatórios de desempenho em tempo real.

Aplicando esses recursos de maneira integrada, o psicopedagogo amplia as possibilidades de estímulo e torna mais rica a jornada de desenvolvimento das funções executivas nas crianças com TDAH.

Conclusão

Estimular a flexibilidade cognitiva em crianças com TDAH é um processo que demanda paciência, criatividade e planejamento. Ao escolher jogos e atividades com regras mutáveis, sensoriais e colaborativas, o psicopedagogo promove a alternância mental de forma lúdica, fortalecendo conexões neurais e favorecendo o sucesso acadêmico e social.

Com base nos critérios apresentados e na lista de sugestões, monte um programa de intervenções adaptado ao perfil de cada criança, documentando progressos e ajustando desafios conforme necessário. Os materiais recomendados complementam o trabalho, ampliando o engajamento e a eficácia das sessões.

Inicie hoje mesmo a inclusão de dinâmicas voltadas à flexibilidade cognitiva em seus atendimentos e observe como pequenas variações de regra podem gerar grandes avanços nas funções executivas dos alunos com TDAH.


Professora Fábia Monteiro
Professora Fábia Monteiro
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