Como criar um ambiente multisensorial em casa para crianças com TDAH
Aprenda a montar um ambiente multisensorial em casa para estimular atenção e funções executivas em crianças com TDAH, com dicas práticas e embasamento neurocientífico.

Criar um ambiente multisensorial em casa pode ser um diferencial no desenvolvimento de crianças com TDAH, pois oferece estímulos variados que ajudam a regular a atenção, reduzir a hiperatividade e potencializar funções executivas. Por meio de brinquedos sensoriais e materiais adequados, é possível montar um espaço adaptado ao perfil de cada criança, promovendo regulação emocional e melhoria na concentração desde o conforto do lar.
O que é um ambiente multisensorial e seus benefícios neurocientíficos
O conceito de ambiente multisensorial surgiu em terapias ocupacionais e psicopedagógicas, aplicando estímulos nos cinco sentidos (tátil, visual, auditivo, olfativo e gustativo) para criar experiências ricas e integradas. Na neurociência, sabe-se que a estimulação combinada ativa múltiplas áreas cerebrais simultaneamente, favorecendo conexões sinápticas e a plasticidade. Em crianças com TDAH, esse estímulo coordenado pode auxiliar no equilíbrio entre os sistemas neuroquímicos de excitação e inibição, reduzindo impulsividade e aumentando a capacidade de foco.
Estudos indicam que ambientes enriquecidos sensorialmente promovem melhor desempenho em tarefas que envolvem memória de trabalho e planejamento. Ao oferecer diferentes texturas, cores, sons e aromas, o cérebro recebe informações complementares que fortalecem a autorregulação. Além disso, a criação de um espaço acolhedor pode reduzir o cortisol, hormônio relacionado ao estresse, criando um ciclo positivo de aprendizagem.
Como montar o cantinho multisensorial em casa
Escolha do local ideal
O local escolhido deve ser tranquilo, com mínimo de ruído externo e fluxo reduzido de pessoas. Uma parte do quarto, da sala ou até um cantinho no corredor pode ser adaptado. O espaço deve permitir ventilação natural e iluminação controlada. Evite áreas de grande circulação para não distrair a criança. A definição prévia do espaço facilita a manutenção e a organização dos materiais.
Recomenda-se usar tapetes antiderrapantes e superfícies que reduzam o eco. Assim, mesmo pequenos estímulos sonoros ganham clareza e não sobrecarregam o sistema auditivo. Se possível, posicione o cantinho próximo a uma janela para combinação de luz natural e artificial.
Estímulos táteis
O tato é fundamental para a autorregulação sensorial. Mescle texturas macias, como almofadas de veludo e cobertores felpudos, com superfícies mais firmes, como blocos de madeira ou pranchas com diferentes relevos. A exploração táctil pode reduzir a ansiedade, pois a variação de pressão e temperatura oferta feedback sensorial ao córtex somatossensorial.
É possível criar caixas sensibilizadoras com materiais caseiros, inspirando-se em materiais sensoriais caseiros. Encha caixas com arroz colorido, macarrão, pedrinhas ou bolas de gel e deixe que a criança mexa livremente. Essa atividade auxilia no desenvolvimento da coordenação motora fina e fortalece a integração hemisférica.
Estímulos visuais e iluminação
Cores e intensidade da luz influenciam diretamente a ativação do sistema límbico e a produção de neurotransmissores, como a dopamina. Prefira lâmpadas de tom quente (até 3.000K) para momentos de relaxamento e luz branca suave (3.500K–4.000K) para atividades que exijam foco. Instalar um dimmer possibilita controlar a intensidade conforme a necessidade.
Elementos visuais como painéis com adesivos removíveis, quadros de imagens e projetores de luz suave (estrelado ou ondulado) podem tornar o espaço mais atrativo. Varie cores: tons terrosos para relaxamento e cores vibrantes para estimulação cognitiva.
Estímulos auditivos e olfativos
Trilhas sonoras com batidas regulares e sons da natureza ajudam a sincronizar ondas cerebrais em padrões alfa ou teta, úteis para relaxamento ou introdução de atividades cognitivas leves. Use caixas de som Bluetooth ou fones abertos se necessário. Evite músicas com letras para não distrair.
O olfato, por ser o sentido mais rápido em disparar memórias e emoções, pode ser explorado com difusores de aromas ou sachês naturais de lavanda, hortelã-pimenta e cítricos. Cada fragrância tem efeito distinto: lavanda para redução de ansiedade, hortelã para alerta e cítricos para elevação do humor.
Estímulos vestibulares e proprioceptivos
Movimentos suaves em balanços, cadeiras suspensas ou redes ativam o sistema vestibular, crucial para o equilíbrio e a atenção sustentada. A propriocepção, por sua vez, pode ser estimulada com exercícios de compressão leve, uso de cobertores ponderados ou bolas gigantes para sentar.
Inclua um pequeno trampolim de solo ou um kit de túnel para engatinhar. Essas atividades favorecem a liberação de neurotransmissores como a serotonina, trazendo sensação de bem-estar e autorregulação emocional.
Produtos e materiais recomendados
Para complementar o cantinho, considere adquirir:
- cobertor ponderado, auxilia na pressão profunda e sensação de segurança;
- labirinto sensorial, desenvolve coordenação motora e atenção;
- bandas elásticas de resistência, excelentes para propriocepção;
- difusor de aromas ultrassônico para alternar fragrâncias.
Além disso, livros de referência em neurociência aplicada, como sugerido em 7 livros de neurociência aplicada à educação, oferecem embasamento teórico para uso desses recursos.
Dicas de manutenção e ajustes conforme evolução
Monitore regularmente o comportamento da criança e ajuste estímulos. Se notar excesso de excitação, reduza brilho e intensidade sonora. Caso haja dispersão, intensifique estímulos vestibulares e proprioceptivos por alguns minutos antes da atividade.
Registre em diário de bordo como cada estímulo afeta o humor e a atenção. Com o tempo, personalize combinações sensoriais que funcionem melhor. Essa prática está alinhada com métodos de estimular flexibilidade cognitiva em crianças com TDAH.
Conclusão
Investir em um ambiente multisensorial em casa é uma estratégia acessível e poderosa para apoiar crianças com TDAH. Com planejamento e conhecimento neurocientífico, pais e educadores podem criar um cantinho que estimule atenção, regule emoções e fortaleça funções executivas. Experimente diferentes estímulos, acompanhe os resultados e adapte o espaço conforme as necessidades individuais. Essa personalização proporciona um ambiente acolhedor e eficaz para a aprendizagem e o bem-estar infantil.