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Atualizado em 16/06/2012

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO: CARTAS A NELSON ALGREN: UM AMOR TRANSATLÂNTICO

Descubra os sentimentos profundos e a beleza de uma história de amor transatlântica através da análise crítica desta obra-prima de Nelson Algren. Leia a resenha crítica e descubra como este romance toca nossos corações.

BEAUVOIR, Simone de. Cartas a Nelson Algren: Um amor transatlântico, 1947-1964.Rio de Janeiro:Nova Fronteira.2000.

Uma (re)leitura do amor

As cartas que Simone de Beauvoir enviou a seu amante americano de 1947 a 1964 foram reunidas no livro que a própria Simone havia planejado e que, infelizmente, não teve tempo de ver publicado. A partir do projeto iniciado por sua mãe adotiva, Sylvie Le Bon de Beauvoir traduziu as cartas para o francês e as tornou públicas.

O livro contém as trezentas e quatro cartas que Simone enviou a Nelson, separadas em capítulos de acordo com o ano em que foram escritas, porém não é uma edição cruzada com as cartas que Nelson enviara à sua amante. Tal fato deve-se à negativa que os agentes de Algren deram à Sylvie sobre a liberação das cartas que ele havia enviado à Simone, após mais de um ano de espera.

Talvez a ausência de respostas possa causar no leitor a impressão de que o livro seria cansativo ou até mesmo incoerente, mas a perfeita organização das cartas e as notas de rodapé escritas por Sylvie de Beauvoir tornam a leitura do livro extremamente fácil, não trazendo problema ou dificuldade de compreensão para quem se aventura pelo surpreendente universo amoroso da parceira intelectual de Jean Paul Sartre, com quem também teve um affair no início de sua carreira, que é relatado de maneira bem clara em uma das cartas, respondendo a Algren, quando este afirma sentir um incômodo ao pensar na relação que Simone tinha com Sartre.

O livro não é apenas uma soma de declarações amorosas, mas também uma descrição detalhada e muito interessante da vida que Simone levava em Paris, de suas viagens, suas angústias profissionais, sua relação com sua família, as dificuldades pelas quais passou durante a Segunda Guerra Mundial e, por vezes, um retrato político e econômico da Europa (com ênfase na França) no pós-guerra.

É impossível não se emocionar com a leitura das cartas, principalmente porque nelas há uma grande carga de sofrimento, diante da distância que separava o escritor americano da escritora francesa; distância essa não apenas física, mas também de realidades e estilos de vida, como pode-se perceber muito bem através dos lamentos conformados da autora.

Além de emocionar, Simone de Beauvoir realmente surpreende em alguns trechos de cartas que envia a seu marido (sim, era assim que a autora se referia a seu amado).Por vezes, ela faz comentários que dariam arrepios a qualquer feminista, demonstra fragilidade por estar longe do homem que ama e anseia pelo reencontro amoroso entre os dois.

A leitura do livro, além de deliciosa, é um curioso passeio pela mente e o coração da polêmica Simone de Beauvoir, em uma obra sua (mesmo que escrita sem a intenção de que fosse uma obra literária) que faz referência a outras famosas, como Memórias de Uma Moça Bem-Comportada, A Força das Coisas, L’Amérique au Jour le Jour; e também a diversas obras literárias, cinematográficas ou teatrais de outros autores, incluindo próprio Nelson Algren.

O livro é um retrato de Simone tirado de um ângulo antes oculto,envolvendo o leitor e prendendo sua atenção do início ao fim da história de amor estranha e interessantíssima entre um típico americano de Chicago e uma muito característica parisiense.Vale a pena enxergar Simone de Beauvoir sobre este ângulo.

Autor: Aline Gatto Boueri

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