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Atualizado em 31/10/2012

RESENHA DO LIVRO 1961, QUE AS ARMAS NÃO FALEM

Entre na vida dos personagens, viva suas aventuras e descubra todos os segredos que eles guardam neste livro. Confira a resenha de 1961, Que as Armas Não Falem, e descubra os desafios que eles viveram. Clique agora e leia!

RESENHA DO LIVRO “1961, QUE AS ARMAS NÃO FALEM”

O livro

Narrar um curto período de tempo da história brasileira, cerca de 14 dias nervosos do ano de 1961, que provocaram repercussões exaltadas em todo o país, aonde manobras de diversos personagens decidiram os rumos da política nacional. Essa é a proposta dos jornalistas Paulo Markun e Duda Hamilton no livro “1961, Que As Armas Não Falem”, 410 páginas, lançado em 2001 pela editora Senac.

O período em questão retratado compreende o processo de renúncia do então presidente Jânio Quadros no dia 25 de agosto de 1961, as conseqüências e implicações desse acontecimento, e o impasse que surgiu: a legitimidade da posse de João Goulart, vice-presidente que estava em visita oficial à China comunista quando aconteceu a renúncia, mas que acabou sendo empossado no dia 7 de setembro de 1961 sob o regime parlamentarista de governo. Esse episódio da história ficou conhecido como “A crise da Legalidade”.

A obra, redigida com caráter documental, foi elaborada como uma grande reportagem, envolvendo uma equipe de apoio de 15 pesquisadores que realizaram um minucioso trabalho de levantamento de dados em jornais, revistas, livros, documentos e arquivos da época, além de entrevistas com “testemunhas” que presenciaram o desenlace do acontecimento.

“Que As Armas Não Falem” revela o verdadeiro contexto político do período, apontando os vários personagens que participaram e influenciaram a crise política. Descrever todo o processo não foi uma tarefa simples, pois diversas situações paralelas tiveram importância no processo, por isso os autores utilizaram uma narrativa não linear na obra, que possui 18 capítulos, para conseguir transmitir o desenvolvimento dos fatos.

Apesar de ter ocorrido há 40 anos, ainda existem fatos inexplorados e situações mal explicadas sobre o caso, como fontes e documentações inéditas, que ajudam a esclarecer vários aspectos nunca antes revelados. Muitos historiadores afirmam que essa crise foi uma das primeiras implicações que conduziram ao Golpe Militar de 64, daí a importância do episódio.

Renúncia

Tudo começou em agosto de 1961, quando o presidente Jânio Quadros, com apenas sete meses de mandato, renunciou ao cargo alegando que “forças terríveis” o estavam impedindo de governar com “consciência e serenidade” necessárias para conduzir o país.

Quadros era um político atípico. Ex-governador de São Paulo, conseguiu se eleger presidente com apoio dos partidos PCD e UDN, depois de uma campanha presidencial massiva que rebuscava elementos de identificação popular e utilizava slogans como “tostão contra milhão”, “Jânio vem aí” e a famosa vassoura, que prometia limpar as podridões do cenário político tradicional. Com caspa no ombro, cabelo desgrenhado e discursos nacionalistas exaltados, conseguiu se eleger, vencendo o Marechal Henrique Lott e Ademar de Barros.

Jango

Para a vaga de vice, cuja eleição era realizada separadamente, ganhou o gaúcho do partido trabalhista João Goulart, “afilhado político” de Getúlio Vargas, que ingressou na política em decorrência do apoio do aliado influente. Sem grande expressão política, sempre ocupou cargos de confiança de Vargas no início da carreira, como por exemplo assumindo o Ministério do Trabalho.

Nas eleições de 1955, após o suicídio de seu “padrinho”, Jango, como era conhecido, foi eleito vice-presidente concorrendo na chapa de Juscelino Kubitschek. Mesmo longe dos holofotes, conseguiu espaço e influência nos sindicatos, seguindo a mesma linha populista de Vargas.

Um de seus maiores inimigos foi o jornalista Carlos Lacerda, que enxergava nele um sucessor de Vargas, e por isso lançava críticas ferrenhas ao gaúcho no seu jornal Tribuna da Imprensa.

Demolidor de presidentes

Lacerda é uma das figura mais controversas da história do Brasil. Era um verdadeiro demolidor de presidentes, seus ataques desmoralizaram os governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, além de outros inimigos como Samuel Wainer, General Ângelo Mendes de Moraes e Luís Carlos Prestes. Famoso por sua língua afiada, depois de muito anos de militância e jornalismo, resolveu ingressar na política, e ocupava o cargo de governador do Estado da Guanabara quando houve a crise de 1961.

De fato, um pronunciamento realizado por Lacerda foi o estopim da renúncia de Jânio. No dia 24 de agosto, aniversário da morte de Vargas, Lacerda esteve nos estúdios da TV Rio, uma das maiores audiências da época, onde disparou diversas denúncias contra Jânio Quadros durante mais de uma hora. Essa atitude de Lacerda causou tamanha repercussão, que no dia seguinte pela manhã Jânio entregou seu pedido de renúncia. Ao saber da renúncia, declarou que tudo foi um “lamentável mal entendido”.

Pela legalidade

Outro personagem de destaque é Leonel Brizola, que era governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Jango. Com a renúncia de Jânio Quadros e a possibilidade de um empedimento da posse de João Goulart, montou uma verdadeira “Rede da Legalidade”, que contava com o apoio da opinião pública, jornalistas e políticos, em defesa do cumprimento da constituição, empossando Jango como presidente.

Na verdade, temia-se que os ministros militares, Odílio Denys, Gabriel Moss e Sílvio Heck, que não concordavam com a conduta política de Jânio Quadros nem simpatizavam com Jango, organizassem um golpe e instaurassem uma ditadura militar, fato que realmente aconteceu alguns anos depois, em 64. Pressionado pelos militares, Ranieri Mazzilli, presidente do Congresso Nacional, assumiu a presidência interina, enquanto não se resolvia o impasse.

Enquanto isso, Jango, que estava fora do país, temia regressar e ser preso, por isso agia com cautela. Seu grande aliado, Brizola, conseguia a cada dia mais aliados à “Rede da Legalidade”, fazendo diversos pronunciamentos nas rádios que apoiavam o movimento.

Guerra Civil

Ameaças de ataques e bombardeios à resistência eram freqüentes, os autores revelam que uma ordem de bombardeio à sede da “Rede”, o Palácio Piratini em Porto Alegre, foi enviada, porém não foi cumprida por militares que não concordavam com o empedimento de Jango. Nesses dias, as pessoas viviam sob uma Guerra Civil iminente.

Assim que o General Machado Lopes, responsável pelo III Exército, decidiu que não aceitaria mais comandos do ministro de Guerra Odílio Denys, e passou a defender a legalidade, a “Rede” ganhou força suficiente para enfrentar possíveis confrontos armados.

A posse

Devido ao apoio do III Exército, João Goulart regressou ao Brasil, num caminho cauteloso, com escalas na França, Argentina e Uruguai. Ainda assim, temia-se a Operação Mosquito, que o avião de Jango fosse abatido ou forçado à uma rendição. Depois que a operação foi cancelada pelos ministros militares, João Goulart retornou ao país, para assumir a presidência sob diversas condições impostas pelo congresso, dentro de um regime parlamentarista de governo. Foi a forma encontrada para evitar um conflito armado.

Personagens

Esses são apenas alguns dos personagens do episódio. Vale lembrar as participação de Juscelino Kubitschek, Marechal Lott, Tancredo Neves, Castelinho, Pedroso Horta, José Aparecido, Amaral Peixoto, Magalhães Pinto, Carvalho Pinto, Machado Lopes, Ascendino Leite, os irmãos Geisel e até mesmo Ernesto Che Guevara. Na verdade, Markun e Duda registram em “1961, Que As Armas Não Falem” uma obra rica em detalhes, relatando todos os participantes, acontecimentos, fatos, e desdobramentos da crise. O livro-reportagem cumpre seu papel de propiciar ao leitor o clima daquele período conturbado da história brasileira.

Autor: Ana Paula Costa

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