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Atualizado em 02/08/2023

Resenha: Carl Gustav Jung – Uma análise crítica

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Carl Gustav Jung (1875-1961)

“A minha história é a história de um inconsciente que se realizou”.

Médico psiquiatra suíço, Carl Jung foi um dos mais fecundos e importantes pensadores da Psicologia contemporânea. Fortemente influenciado pela mitologia, filosofia e antropologia, desenvolveu, a partir da psicanálise freudiana, novos rumos, desviando o foco essencialmente psicossexual para uma visão mais geral, intuitiva e espiritual.

Jung sempre trabalhou a partir da sua intuição. Desde cedo, com seus sonhos e seu isolamento, demonstrava um profundo desejo de compreender-se e à Humanidade. Sua vasta obra de valor inestimável e sua própria vida evidenciam a sua busca pelo seu “eu”, ou como ele chamava, a sua individuação.

Sua teoria começa junto à psicanálise, adotando o modelo topográfico de psique freudiano. Em contato constante com o mestre, Jung logo passou a discordar das idéias deste, embora tenha tido dificuldade para desligar-se completamente. Apenas com a confecção do último capítulo do livro Metamorfoses e Símbolos da Libido, de 1912, ele teve coragem de expor suas idéias a respeito do inconsciente, libido e papel da sexualidade. Para ele, o inconsciente não é apenas um depositário de velhas lembranças, traumas e experiências. Traz também algo novo, algo desconhecido e não vivido, que remonta à gênese da Humanidade, o que ele chamou de Insconsciente Coletivo. Ali, existiriam impressões trazidas da nossa história genética, do nosso passado. Todas as representações universais, mitológicas, os Arquétipos. A mãe, o pai, o herói, o mártir, Deus, e muitas outras manifestações humanas seriam considerados arquétipos, e estes arquétipos surgiriam, na análise, após o tratamento dos traumas considerados “normais”. A análise, para Jung, não termina com a resolução dos traumas de infância e vida adulta. Na verdade, ela começa quando o paciente entra em contato com seus arquétipos, onde ocorre o seu “despertar” existencial. Os sonhos, que foram o seu material de estudo para a elaboração de sua teoria do Inconsciente, são, para ele, processos normais da economia psíquica, agindo como norteadores das atitudes, como a consciência no sentido de consciência moral.

Embora os arquétipos sejam representações individuais e que não se manifestam todos numa mesma pessoa, existem alguns que são universais, e que são o caminho para a individuação. São eles a persona, a Sombra, a Anima, o Animus e o Self. A persona é um estado do Eu relativo aos papéis sociais, as convenções, e comportamentos construídos com o intuito de adaptar-se às normas da sociedade. Para que possamos nos desenvolver, é preciso que saibamos nos diferenciar dessa máscara construída desde a infância, saber equilibrar suas atitudes individuais e as necessidades do papel social. A Sombra começa a surgir à medida em que nos distanciamos da persona. Ela corresponde aos nossos complexos reprimidos, ou seja, as nossas fraquezas, defeitos, aspectos em nós mesmo que não gostamos, enfim, à parte do nosso Eu que fica escondida sobre a máscara social. Fácil fica perceber que ela é correspondente ao inconsciente psicanalítico, e que o desenvolvimento do indivíduo consiste em superar esses complexos, evoluir as qualidades que ficaram reprimidas por tanto tempo. Anima e Animus são os arquétipos dos gêneros. Anima é a parte feminina presente em todos os homens, enquanto que Animus é a parte masculina das mulheres. São atitudes predominantes de um sexo que estão presentes no outro, e que, em maior ou menor grau, influenciam nas atitudes. O desenvolvimento consiste em saber diferenciar esse lado para que ele melhor se manifeste, seja consciente ou inconscientemente. O Self é o arquétipo central. Ele organiza e rege o organismo psíquico. Á medida em que nos desenvolvemos, ou “individuamos”, o centro controlador da personalidade passa do Ego para o Self. Jung pesquisou representações simbólicas do Self em inúmeras culturas, em todos os continentes.

Na sua obra Tipos Psicológicos (1920), Jung relaciona as duas principais atitudes presentes no sujeito. A Introversão e a Extroversão. São como “formas de encarar o mundo”, atitudes perante as coisas e à vida em geral. Os introvertidos agem de forma mais contida, “como se obedecessem a um ‘Não’ inaudível”, como dizia o próprio Jung. São mais contidos e pensam antes de agir. Já os extrovertidos têm uma atitude mais imediata, como se estivessem convencidos de que a sua primeira atitude é sempre a correta. Porém, mesmo entre uma mesma atitude, existem diferenças de comportamento e perspectiva. Jung postulou então, que deveria haver outros fatores, mais específicos, do que as duas atitudes principais, para nortear as relações das pessoas. Desenvolveu então as funções psíquicas. São elas o sentimento, a sensação, o pensamento e a intuição. Cada pessoa tende a reagir de acordo com a função que for mais desenvolvida em si, como um hábito forjado tanto pela hereditariedade quanto pelo meio social. Muito embora essa visão pareça, à primeira vista, redutiva e classificatória, Jung sempre deixou claro que ela é apenas descritiva, e que não encerra nenhuma verdade absoluta aplicável à todos os seres humanos. Pensamento e Sentimento são opostos entre si; são funções racionais, pois relacionam-se a julgamentos e análises do objeto em questão. Sensação e Intuição são também opostas entre si; porém, são funções irracionais, pois não envolvem julgamento ou análise do objeto. Dessa relação entre as funções e as atitudes primárias, temos oito tipos psicológicos básicos. O pensamento extrovertido, pensamento introvertido, sentimento extrovertido, sentimento introvertido, sensação extrovertida, sensação introvertida, intuição extrovertida e intuição introvertida. Cada um possui características comuns e próprias, que o definem, mas não o limitam, como Jung sempre deixa claro.

  Comentários

Jung é um sujeito um tanto misterioso. Aliás, como todos nós somos um pouco. A diferença está no fato de que ele realmente tentou viver o seu “mistério”. O seu chamado processo de individuação é, na minha opinião, enquanto conceito, um dos saques mais importantes da psicologia. Ninguém é igual a ninguém. Jung parecia possuir uma força interior que sempre lhe disse isso, de modo que sua vida transformou-se, parafraseando ele próprio, “num inconsciente que se realizou”. Embora eu discorde de várias coisas que ele coloca na sua estrutura psicológica (confesso que não li tanto assim de Jung para fazer análise mais aprofundada), ele, em suma, tocou mais a fundo determinadas coisas do que, por exemplo, Freud e Reich.

Sua idéia de inconsciente coletivo, por exemplo, aproxima-se da filosofia da virtualização atualmente construída por Deleuze, Guatarri, Foucalt, Pierre-Levy e outros. A idéia de que o conhecimento está aí, no mundo, e que nos é impossível apreende-lo, a não ser através de uma codificação cognitiva (insight), e que é impossível transmiti-lo, a não ser através de uma sobrecodificação, a que chamamos linguagem (e que o transforma num simples saber, “palavras mortas” , como diria Deleuze), é, na minha opinião, semelhante à idéia junguiana do inconsciente coletivo. Para ele, esse inconsciente é, ao contrário do freudiano, uma usina em constante movimento, uma fonte de energia criativa que deve ser ouvida e usada. E é exatamente isso que o inconsciente é! Jung abriu as portas, mas só conseguiu enxergar até onde suas vistas alcançavam. Deixou de lado aspectos sociológicos importantes, e que complementariam deveras o seu trabalho. Porém, enxergou muito mais longe do que seus contemporâneos. Começava a esboçar uma filosofia da virtualização, quando começou a trabalhar com a sincronicidade. Se tivesse concluído esse estudo, certamente faria algumas revisões na sua teoria e principalmente na sua prática terapêutica. Embora eu não acredite em qualquer forma de categorização, o seu trabalho sobre os tipos psicológicos é ainda de valor pouco reconhecido, e certamente deve apontar para novas formas de terapia e compreensão do homem.

Enfim, tal como qualquer pensador, seja moderno ou antigo, Jung não tem começo e nem fim. É um fluxo constante de conhecimento, uma tentativa solitária mais belíssima de livrar-se da castração pseudo-místico-científica que se tornou a psicanálise. Pena é que seus discípulos parecem seguir o mesmo caminho dos de Freud.

Bibliografia Consultada

FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da Personalidade. Editora Harbra. São Paulo: 1986

RAPPAPORT, Clara Regina (org.). Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung. Coleção Temas Básicos de Psicologia, vol VII. Editora E.P.U. São Paulo: 1984

Jung: Vida e Pensamentos. Coleção Vida e Pensamentos, vol VII. Editora Martin Claret. São Paulo: 1997

Autor: Peterson Medeiros Colares

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